- Tudo bem, tudo bem… - diz Louis - Seu pai e eu tivemos um desentendimento quando sua mãe fugiu.
Você encara o homem sem dizer uma só palavra, esperando que o mesmo prossiga a história. Ele pigarreia e continua:
- Digamos que uns dias antes de sua mãe fugir, eu já sabia dessa ideia dela.
- E não contou ao meu pai?
- É exatamente esse o motivo da briga. Amber relatou a Clarissa toda a sua incerteza, suas dores, seu sofrimento e seu grande amor por você. Ela dizia que sofria muito com a prisão que era a vida real e que havia nascido para mudar o mundo e, não, para ser adorada por pessoas que sequer conhecia. Ao mesmo tempo, ela dizia que nunca sentiu um amor tão grande na vida dela quanto o amor que sentia por você…
- Isso não faz o menor sentido! Como ela pôde… - você se exalta.
- Deixe-me terminar, Louis. Clarissa me dizia que Amber estava entrando numa profunda depressão e que haveria chances dela fazer algo muito perigoso com ela mesma… As automutilações já eram frequentes, inclusive quando ela estava grávida. Clarissa tinha medo de Amber se machucar mais, ou, até mesmo, de tirar a própria vida.
As lágrimas preenchem seus olhos. Seu mundo caiu. Você nunca havia parado para pensar nessa possibilidade. Ele continua:
- Amber dizia que queria fugir, então Clarissa a incentivou. Ambas sabiam que Mary cuidaria de você e que seu pai te daria todo o apoio e incentivo do mundo. Clarissa veio me contar da fuga no dia anterior de tudo acontecer. Eu surtei. Disse que aquilo era um absurdo e que eu iria definitivamente relatar tudo a Louis. Até que Clarissa me mostrou as roupas ensanguentadas de Amber. Suas mutilações manchavam suas vestes e Clarissa as lavava para que os funcionários reais não percebessem. Amber corria risco de tirar sua própria vida. Eu tive que deixá-la ir.
Louis percebeu seu choque e se aproximou. Ele o abraçou e enxugou suas lágrimas que escorriam pelo rosto. Então, ele prosseguiu:
- É claro que eu expliquei isso ao seu pai. Mas Bernard era completamente cego de amor por Amber e nada daquilo importava. Ele simplesmente queria estar com ela independente do que acontecesse. Ele dizia que se eu tivesse o avisado ele teria abandonado o trono e fugido com ela… Mas sei que ele não abandonaria o povo… Seu pai era um grande homem. Eu sei o quanto ele lutava contra as falas e leis preconceituosas do reino. Eu sei o quanto ele brigava com Doncaster, desde quando esse merdinha era apenas o capitão da guarda real. Doncaster é uma pessoa terrível e eu vejo o quanto os menos favorecidos estão sofrendo em seu reinado. Pessoas passam fome, Louis! Fome! Essa palavra não existia enquanto seu pai era rei! Eu vi um homem negro ser fuzilado na minha frente porque ele estava caminhando a noite sozinho. O racismo hoje em dia é real, Louis! Doncaster não vai parar!
Aquilo foi um soco em seu estômago. Você não fazia ideia dessa realidade. Todas aquelas informações o atordoaram completamente.
- Eu sei que você está tentando conseguir seu reino de volta. E Louis, isso não é uma questão de querer, é uma questão de precisar. Alçois precisa de você.
Louis diz a você. Você sabe que é real, mas parece que o peso disso tudo só aumenta a cada dia que passa e, então, você diz:
- Não tá fácil, Louis. Nem um pouco. Faz 7 anos que eu já li, reli e decorei de frente pra trás e de trás pra frente todos os livros legislativos existentes nesse reino. Encontrei Elisa, a menina loira que você viu, e achei que seria minha solução! Mas fiquei completamente apaixonado por ela e acredito que ela fugiu. Acho que nunca mais vou vê-la e ela realmente era minha última esperança. A cada passo que eu dou parece que me distancio um pouco mais do trono. A cada dia que passa eu esqueço um pouco mais de como é o amor pelo povo. A cada hora que vira eu releio tudo o que eu já li para poder relembrar, pra ver se eu não deixei uma vírgula de lado, ou se esqueci alguma coisa. Eu tô completamente maluco.
- Louis, meu caro. Agora noto sua maior semelhança com sua mãe. Você preza a razão. E nem sempre ela é a solução. Nem sempre os livros são a resposta. Nossa emoção pode nos levar a caminhos incríveis. Nosso coração nos leva a lugares importantes. Eu só estou aqui porque meu coração urrou que eu precisava te visitar, que eu precisava te ver. Então eu vim.
Você abaixa a cabeça e Louis a levanta com o dedo dizendo:
- A resposta não tá aqui, - ele aponta para sua têmpora - tá aqui - diz ele apontando para o lado esquerdo do seu peito. - Olha de onde você veio. Olha para todos que te trouxeram até aqui… Quem realmente são seus ancestrais? Onde eles estão?
Você suspira e começa a interrompê-lo para se manifestar. Aquilo não faz sentido para você, mas ele o impede de o interrogá-lo:
- A solução não está nos livros, Louis. Está no seu sangue.