A viagem à Reinhart é curta, mas o carro de Mary e Harper é extremamente velho e difícil de ser conduzido. Eles adentram a pequena vila e Elisa aponta para lugares pelos quais frequentou durante toda sua vida: sua escola, a padaria, a casa das amigas… Você sente uma fisgada no peito. Parece ser inveja. Inveja de uma vida simples, sem regalias, sem fama e, o melhor, na companhia da própria mãe.
Elisa estaciona o carro em frente a uma casa de campo muito bonita. É um sobrado branco com desenhos coloridos espalhados por toda a parede. Um pequeno caminho de pedra serpenteia até a entrada da porta de madeira. Elisa sai do carro, pega sua cadeira de rodas e te ajuda a chegar até a porta.
- Preparado? - Elisa pergunta antes de bater.
- Nunca - você responde.
Ela ri e bate na porta. Após alguns segundos, ela se abre. Uma mulher loira abre a porta. Seus olhos azuis, iguais aos de Elisa, brilham em sua frente. Ela usa um vestido vermelho solto que a deixa deslumbrante. Um sorriso estampa seu rosto quando vê Elisa, mas, quando ela abaixa a cabeça e te percebe, ela fica branca.
- Oh meu Deus - Amber diz.
- Oi - você fala timidamente.
- Louis! - Ela exclama se abaixando para um abraço.
Amber quase te derruba com a força de seus braços que se atiraram em você. Ela chora e ri ao mesmo tempo. Ela se afasta, mas ainda segura seus ombros e olha por toda sua face e seu corpo. Seus olhos percorrem todo o seu rosto, como se ela estivesse o decorando e procurando por algo de errado. Ela ri e te abraça novamente.
- Eu nem acredito que um dia eu poderia te encontrar de novo! Você é idêntico ao Bernard, que alegria! Oh, meu filho… Desculpe sua mãe! Mil desculpas por ter te abandonado, eu não conseguiria…
Ela cai no choro e você a abraça em retorno. Lágrimas caem de seus olhos delicadamente e o perfume de Amber invade seu olfato. Ela cheira baunilha e seus cabelos são tão brilhantes quanto você imaginava. Aquilo não parece real. Nada daquilo soa minimamente viável.
- Vamos! Entrem, entrem! - Amber diz secando os olhos, soltando-se do abraço e apontando para o interior da casa.
- Com licença… - você diz.
Ao entrar na casa, você percebe a decoração rústica e encantadora. A cor azul e um tom amadeirado permeiam toda a casa. O chão de madeira, a lareira e os móveis formam um conjunto extremamente acolhedor e aconchegante. Elisa senta-se no sofá e te convida para juntar-se a ela. Amber chega com duas xícaras de café e senta-se na poltrona marrom à sua frente. Então, você começa a falar:
- Amber…
- Me chame de "mãe", por favor - ela responde com os olhos marejados.
- Mãe… Ehr… Eu-eu acho que ainda não caiu a minha ficha de que você está aqui na minha frente… Você não tem ideia de tudo pelo o que eu passei todos esses anos sem meu pai…
- Eu imagino, meu filho… Bernard era um grande homem!
- Sim… E ele tinha tantos planos incríveis para o reino! Tantas evoluções tecnológicas, empreendimentos e tudo o que pudesse deixar o povo mais feliz! Mas agora Doncaster destruiu tudo isso… Os habitantes estão miseráveis e é minha responsabilidade salvar tudo! Trazer de volta toda a esperança do reinado da família Gaston! Eu não posso desapontar meu pai… E você precisa me ajudar! Eu não sei de que maneira exatamente, mas tenho certeza de que você pode, de alguma forma, encaminhar o trono para mim novamente! Meu pai disse que vocês nunca se divorciaram, então talvez essa seja a solução e…
Amber segura em seu braço interrompendo sua linha de pensamento. Ela te olha profundamente e dá um sorriso. Elisa observa tudo aquilo quieta. Então, Amber responde:
- Louis, meu querido… Você não merece isso. Você merece uma vida digna e longe de toda essa fama! Não é sua responsabilidade salvar o reino. Tudo foi um grande golpe e será impossível pegar o reino daquele traste. Então, eu não irei te ajudar, mas para o seu próprio bem.
Você não acredita no que acabou de ouvir. Amber está negando ajuda. Ela, a única solução possível para seu problema, está dizendo que não irá fazer nada a respeito.
- O que? - Você diz.
- Você não sabe no que está se metendo, Louis… Você pode seguir a vida distante da realeza. Longe daquele castelo… Você pode ficar aqui e ir para a universidade! Ou, até mesmo, ir viajar pelo mundo! Conhecer lugares onde as pessoas não tem ideia do seu nome! Imagina que sonho?
- O que? Você acha mesmo que vou largar tudo para "viajar o mundo"? Eu preciso do reino! Eu preciso ter o poder de volta! Eu não irei deixar Bernard na mão, assim como você fez! Eu não sou um covarde, Amber! Não sou.
- Louis! Ela quer te ajudar! - Elisa te reprime.
- Eu só estou aqui pela certeza de que você me ajudaria, Amber! Passei esse tempo todo com Elisa só para encontrar a porra de uma solução! E vocês duas ainda me dão bronca? Pensam que vão me tirar disso tudo? Foram sete anos! Se-te! Lendo, pesquisando, buscando… e agora vocês querem que eu simplesmente desista?
- Você disse que só passou esse tempo comigo porque estava me usando, Louis? É isso mesmo? - Elisa questiona.
- Elisa, você está deturpando o que eu acabei de dizer! - Você grita em resposta.
- É exatamente isso que você acabou de dizer, Louis! - Elisa grita com você.
- Parem de gritar dentro de minha casa!
Amber os interrompe, mas isso não impede Elisa de continuar:
- Saia da minha casa, Louis! Saia agora! Eu pensei que tudo o que vivemos não fosse um caça ao tesouro ao seu troninho real! Eu realmente achei que fôssemos amigos e que o que vivíamos era de verdade! - Elisa diz aos berros e com lágrimas nos olhos.
- Elisa, não é isso o que eu quis dizer!
- Saia! Saia agora! Nunca mais volte! Não venha me procurar! Nunca mais!
Elisa se levanta, aproxima sua cadeira de rodas do sofá e aponta para a porta da casa. Você olha para Amber, ela suspira, mas não olha em seus olhos. Você se põe na cadeira e dirige-se em direção à saída. Amber te acompanha e sai da casa juntamente com você. Ela fecha a porta e diz:
- Louis. Isso é para o seu bem. Quando perceber que a vida real não vale a pena, venha me procurar. Estaremos no seu aguardo e te receberemos de braços abertos para sua nova vida. Até lá, por favor, não contate Elisa. Este é o meu telefone, - ela te entrega um pequeno papel - por favor, me telefone regularmente. Eu preciso saber que você está bem.
Você olha para o papel. A raiva sobe para sua cabeça e você o atira no chão. As lágrimas tornam-se rápidas e fervorosas, então, você vira a cadeira e vai até o carro, deixando para sempre Elisa, Amber e toda a esperança que tinha em, finalmente, honrar seu pai e Alçois.