A grande porta do local onde antes seu pai trabalhava parece muito mais imponente do que quando ele era o rei. Você suspira fundo, olha para as duas e bate na porta.

- Entre! - Doncaster grita dentro do cômodo.

Vocês entram e você percebe como a sala está completamente modificada. Animais mortos pendurados na parede, elementos de caça espalhados por toda a sala, a antiga mesa de madeira clássica fora substituída por uma grande mesa preta e, todos os quadros da família Gaston, foram retirados das paredes.

- Olha só quem, finalmente, voltou. A princesinha salvadora dos animais! Amber! A que lhe devo a honra?

- Ah Doncaster… Eu não senti um pingo de saudades! - Ela responde.

Você vê Elisa dando um cutucão na mãe que, brevemente, se recompõe e, então, você diz:

- Doncaster… Podemos nos sentar? Precisamos ter uma palavrinha com o senhor.

- O pronome correto é "vossa majestade", por favor - ele responde com um sorriso amarelo.

Você nem se dá ao trabalho de respondê-lo, mas se aproxima com a cadeira da grande mesa e observa Elisa e Amber se sentarem. Você pigarreia e continua:

- Pois bem, temos algumas reivindicações pendentes com a vossa majestade - você utiliza um tom sarcástico.

- Reivindicações? Há! Essa é ótima!

- Muito bem, senhor Doncaster. Vamos lá. - Elisa toma posse da fala - Temos uma documentação escrita pelo rei anterior, o senhor Bernard, o qual registrou sua vontade na Justiça de Alçois, o grande órgão que comanda as leis do país, caso ele falecesse. No entanto, ele só deixou o documento disponível à Amber e ela, e somente ela, poderia retirá-lo, pois, obviamente, era da vontade do rei que sua esposa governasse seu reino e tivesse exclusividade nas informações.

Você percebe que Doncaster respira fundo e se ajeita na cadeira. Ele não parece tão confortável quanto no início da conversa.

- Esse documento, - continua Elisa - prova que Amber, como esposa de Bernard, é a única pessoa que poderia governar Alçois, ou, destinar o reino para o governo de outra pessoa. Sabendo de sua trajetória até o trono e ao governo de Alçois, é sabido que a vossa majestade - ela repete o tom irônico - não deu prosseguiu as regras do antigo rei, portanto, tem a obrigação de renunciar o trono e devolvê-lo a nossa querida Amber e atual rainha.

Doncaster permanece em silêncio. Ele se levanta e caminha até Amber, pega em seu ombro, dá um sorriso e diz:

- De nada adiantará, meus queridos… - ele estala um dedo e muitos guardas entram na sala - Se Amber não estiver viva! Para matá-la, basta apenas um clique - ele saca uma arma do bolso e aponta para a cabeça dela - e pronto.

Elisa se assusta e levanta de supetão, indo em direção a mãe, porém, os guardas são mais rápidos e a seguram pelo braço imediatamente. Doncaster enlaça o pescoço de Amber numa chave de braço e mantém a arma apontada para a cabeça da rainha. Ele volta-se para você e diz:

- Desista agora, ou eu atiro.

Você nunca tivera um treinamento físico para uma situação como essas. Revidar, naquele momento, não era uma opção. Sua respiração tornou-se ofegante, você ouvia sua pulsação e via o olhar assustado de Amber em sua direção. Porém, mesmo que você não soubesse como atirar, ou brigar, Bernard havia lhe mostrado as coleções de armas do castelo e, o que muitos não sabiam, é que muitas das armas utilizadas eram falsas. Esse tipo falso de munição era utilizado para que guardas de baixo calão pudessem parecer protegidos e também para o uso nas áreas externas do palácio pelos guardas.

Você sabia identificar quais armas eram essas, pois havia uma pequena etiqueta azul em seu gatilho. Você forçou um pouco seu olhar e percebeu que Doncaster portava uma dessas. Agora precisava verificar se os guardas estavam armados. Num olhar de esguelha, você percebeu que todos eram guardas de porte, ou seja, eram os homens que eram treinados para agir somente com a sua própria força física e, consequentemente, quase nunca estavam armados.

Seria um risco reagir. Qualquer uma dessas informações poderia estar equivocada. O que fazer?